A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





sábado, 8 de dezembro de 2012

Reine sobre mim


"Quem pensa por si mesmo é livre. E ser livre é coisa muito séria! Não se pode fechar os olhos, não se pode olhar pra trás sem se aprender alguma coisa pro futuro"
Renato Russo



     
         Em que pese o clamor das pessoas por mais liberdade, até por herança dos traumas vividos numa época em que o nosso país era governado sob um regime impositivo, a maioria das pessoas, inconscientemente, tem medo da liberdade.

       Isso acontece por um motivo muito simples: quem é livre para fazer o que quer é obrigado a desenvolver responsabilidades que, na verdade, gostaria de delegar a outros. Ser livre implica medir a consequência de seus atos, rever conceitos e refletir sobre o sentido das coisas.

           Na minha experiência pessoal, pude perceber que é muito mais fácil eleger gurus para si e viver numa eterna e doentia dependência deles. É quando se vive perguntando: "- Fulano, é certo fazer isto?"... "É errado fazer aquilo?"...

          E o que não falta por aí é gente carente de afeto que sente a necessidade de controlar a vida do outro e ditar aquilo que se pode ou não se pode fazer. É por isso que muita gente se escandaliza com a Graça de Deus. Por que na Graça, a única lei que prevalece é a Lei do Amor.

          Mas, sem dúvida, é muito mais fácil querer ressuscitar a Lei e a cartilha do "pode-não-pode". Pois quem não tem lei minuciosa para seguir, segue a lei da própria consciência e do próprio coração. E isso só funciona, só dá certo, se o coração for transformado, consciente, convicto e maduro... Adulto não pergunta se "pode ou não pode". Adulto reflete e toma decisões. E depois assume as consequências das suas escolhas.

          A maioria de nós tem medo de decidir e prefere tutelas. Prefere aqueles que nos levem pela mão e nos guiem. É muito mais confortável! Quando se é livre, não há mais ninguém para te dizer o que fazer. É você que passa a ter a consciência da necessidade de não transformar a liberdade em libertinagem. É você que passa a ter a responsabilidade de discernir quando é a hora de estabelecer limites e negar a si mesmo.

          É por isso que foi dito: " Se alguém quiser, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me"


domingo, 4 de novembro de 2012

Sal fora do saleiro



           

         Como cristãos nós somos o "sal da Terra". E sabemos que o sal, pra que salgue, precisa sair do saleiro. Do contrário fica inutilizado. Assim, também, nós precisamos deixar de viver em guetos, como se viver agrupado nas igrejas fosse um fim em si mesmo. Nossas celebrações e reuniões periódicas nos preparam para que estejamos vivendo na sociedade transmitindo os valores cristãos. Portanto, o objetivo é estar no mundo sinalizando o Reino de Deus, de forma que as pessoas nos vejam com o brilho do Espírito Santo.

      Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. (Mateus 5:13)

           Os três anos de ministério terreno de Jesus foram vividos "fora do saleiro", fora do ambiente confinado da religião. É na sociedade, e no mundo, onde a vida mais acontece com toda a sua intensidade, que Jesus se encontra. A vida em sociedade é o cenário onde vemos Jesus com mais frequência nos Evangelhos. E, curiosamente, um de seus lugares prediletos foi a praia (Mateus 13:3; Marcos 4:1; Lucas 5:3; João 21:4)

        "Os conteúdos cristãos tem que ser colocados de maneira que a sociedade humana os perceba, a fim de que o desejo de Jesus se cumpra; para que, vendo o caráter da Igreja e suas ações, o nome do Pai, que está nos céus, seja glorificado. Isto é ver a reprodução do "jeito" de Deus no mundo, nos Seus filhos que, à semelhança do Pai, são bondosos, generosos, sensíveis para amar e perdoar, humanos, intensamente apaixonados pela obra, comprometidos com a missão, conscientes do seu tempo e da sua hora e da responsabilidade para com Deus e para com o mundo, respondendo a este com o mesmo amor com o qual Deus reage todos os dias, fazendo vir sol sobre maus e bons e chuva sobre justos e injustos." (Caio Fabio. Sal Fora do Saleiro)

            A beleza da vida é justamente ver que todos somos diferentes uns dos outros e, mesmo assim, convivermos em amor verdadeiro. O toque de Jesus na vida de cada um de nós não nos faz todos iguais, como se fôssemos um  exército de soldadinhos de chumbo. Pelo contrário, ocorre conosco o mesmo que com os alimentos quando recebem uma pitada de sal. Os alimentos não ficam todos com sabor de sal, eles tem seu próprio sabor realçado pelo sal. Jesus não nos descaracteriza, ele realça nosso "eu", nos transformando no melhor "eu" que pudermos ser!

            Portanto, amigo, vale a pena repensar sua maneira de enxergar as coisas. Se eu me considero alguém realmente transformado e, principalmente, adulto, poderei estar infiltrado nas festas, nas praças e onde mais a vida aconteça, pois tenho certeza do que penso e sou capaz de influenciar positivamente aqueles que nunca pisariam num templo. Aliás, é bom não esquecer, sou discípulo de um quebrador de paradigmas: o Cristo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Coisa de Criança

        

          Por onde Jesus passava era possível ver crianças correndo em volta e se misturando na multidão. Os discípulos tentaram impedir que as crianças se amontoassem no colo de Jesus. Achavam que Jesus tinha coisa mais importante para fazer do que dar atenção às crianças, mas acabaram descobrindo que não apenas as crianças gostavam de Jesus, mas Jesus também gostava das crianças. Numa dessas ocasiões, Jesus pegou uma criança no colo e deixou muito claro que quem não se torna igual a uma criança não pode entrar no reino dos céus, pois o reino dos céus pertence aos que são semelhantes às crianças [Mateus 18.1-5; 19.13-15]. Naquele dia as crianças se tornaram um padrão para a espiritualidade cristã.



        Evidentemente, Jesus não pretendia que nos tornássemos iguais às crianças em todas as dimensões da infância. As crianças, por exemplo, não sabem o que é a gratidão, pois não têm noções de medidas abstratas. Não têm condições de avaliar o que é feito por elas, não sabem quanto sacrifício é necessário para que sejam cuidadas e não têm critérios para os custos da dedicação dos pais ou o valor das coisas que são oferecidas a elas. Por isso é que os pais vivem dizendo “diz obrigado para a titia”, “já disse obrigado para o vovô?”, pois se não o fizessem, as crianças simplesmente pegariam o presente e sairiam correndo para brincar. As crianças também não têm noções de tempo, distância e volume. Por isso é que usam palitos de fósforo para marcar quantos dias faltam para o passeio no zoológico, numa viagem longa perguntam de cinco em cinco minitutos se está chegando, e de noite, antes de irem para a cama, abrem os braços e dizem com aquele sorriso lindo “mamãe, eu te amo desse tamanho assim”.


          As crianças também estão absolutamente fora das categorias sociais de valores e importância. Tratam o general com a mesma displicência com que tratam o zelador do prédio onde moram, e falam as maiores barbaridades quando percebem algo inusitado em algum adulto que pretende conquistar sua simpatia, deixando os pais ruborizados e constrangidos. Elas não sabem quem é importante e quem não é. Elas ainda não foram contaminadas com os paradigmas do mercado, que valora pessoas de acordo com posição social, conta bancária, ou potencial de favorecimento e trocas de favores. Não fazem a menor ideia, por exemplo, de que é preciso um sorriso de plástico para o senhorio que chegou para tratar do aumento do aluguel, ou demonstrar especial apreço ao chefe que veio para o jantar. Isso significa que uma criança jamais perguntaria para Jesus “quem é o mais importante no reino dos céus?”, pois não lhes passa pela cabeça que um ser humano pode ser maior ou menor do que o outro em termos de valor intrínseco – aliás, nem imaginam que exista ou o que seja esse tal de “valor intrínseco”.


          A exortação de Jesus aos seus discípulos sublinha exatamente esses traços próprios das crianças: o absoluto despojamento das disputas de poder e a absoluta ignorância a respeito das hierarquias que separam os seres humanos uns dos outros, e promovem toda sorte de guerras e conflitos, que somente se justificam pela vaidade e o orgulho dos egos que pretendem se afirmar às custas da diminuição e destruição dos demais.


         Como seria o mundo se todos tivessemos o coração das crianças? Teríamos breves desentendimentos, logo seguidos de um enxugar de lágrimas e a correria reiniciada rumo à próxima brincadeira. Haveria mais cooperação e menos competição, mais perdão e menos ressentimento e ódio, mais partilha e menos acúmulo, mais brincadeira e menos agressões, mais amores e menores dores. O rabino Harold Kushner disse que as crianças perdoam rápido, e se reconciliam na velocidade da luz, pois “preferem ser felizes a ter razão”. São simples, e humildes, não se constrangem com vitórias e derrotas, pois não competem, apenas brincam. Não estão no jogo de “quem é o maior e quem é o menor”.


           O Reino de Deus é um reino para gente com coracão de criança. Todo mundo brincando de roda, cada um segurando na mão do outro, sem restrição para quem chegar, apoteose da fraternidade universal, sob a benção do Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa santa e bendita folia. Coisa de criança.


Por Ed René Kivitz (http://edrenekivitz.com)

O dilema de Jó e o sofrimento do inocente

         


          O livro de Jó é um clássico sobre o sofrimento humano. Há quem diga que Jó foi uma personagem fictícia. Porém, sua história é citada no Novo Testamento, de forma clara, por Tiago. Vemos que Jó era homem justo ("Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava o mal."[Jó 1:1]).  O próprio Deus reconheceu a integridade de Jó: "Disse então o Senhor a Satanás: 'Reparou meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal'" (Jó 1:8).
         

          Interessante que os amigos de Jó, ao vê-lo em meio ao sofrimento, resolveram consolá-lo. Enquanto se limitaram a chorar com ele, tudo estava bem. A atitude foi louvável! O problema foi o que veio depois. Como a teologia da época pregava a justiça retributiva, os amigos de Jó não viram outra explicação para seu sofrimento, senão os seus próprios pecados!


          Pior do que a tragédia é a tentatva de explicá-la! É bem verdade que há problemas na vida que são consequências de nossas atitudes. São apenas a colheita do que plantamos. Mas não podemos nos esquecer do imponderável, dos males aleatórios que acometem a alguns, independentemente de cultura, gênero, classe social, etnia e religião. Não sabemos explicar o porquê, nem sabemos por que acontecem com uns e, não, com outros.


          Não bastasse a dor de ter de sepultar seus filhos e de ter perdido seus bens materiais, Jó ainda teve de sofrer mais um toque de Satanás, pois quando este percebeu a sua persistência, sugeriu a Deus que a blasfêmia acorreria se sua saúde fosse abalada: " 'Pele por pele!' , respondeu Satanás. 'Um homem dará tudo o que tem por sua vida. Estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face.' " (Jó 2:4-5)


          Após as infelizes tentativas de explicação dos amigos de Jó, ele insiste em dizer que não é o culpado pelos seus próprios males. E, logo depois, deseja encontrar-se com Deus para obter respostas para a sua tragédia. Jó pedia a Deus que lhe pesasse em balança justa, pois sabia que estava livre de culpa. É preciso que um homem seja mesmo muito íntegro para ter coragem de fazer esse pedido a Deus! Eu é que não quero ser pesado em balança "justa". Minha consciência não é tão limpa assim... Quero ser pesado em balança de misericórdia! Com o peso pendente pro meu lado, é claro!


          Impressionante é que Deus responde a Jó do meio da tempestade: "Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade. Disse ele: 'Quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto.' " (Jó 38:1-4) 


         Deus faz dezenas de perguntas a Jó e ele não consegue responder a nenhuma delas! Ele mostra a Jó que o conhecimento humano é limitado demais para compreender as razões de tudo o que acontece na vida. E o mais belo de tudo é que a sorte de Jó foi restaurada quando ele orou pedindo o perdão para seus amigos por eles terem falado o que não deviam a respeito de Deus. Jó orou por eles seguindo orientação do próprio Criador.


         No dia mau, no meio do caos, na hora da tragédia, o que precisamos não é de respostas sobre a causa de tamanha dor. Nós precisamos mesmo é de pessoas ao nosso lado. Deus incentivou a comunhão de Jó com os amigos que inicialmente tinham ido consolá-lo, mas acabaram acusando-no, mandando que Jó orasse por eles. Quando algum amigo vier trazer respostas para a causa do seu sofrimento, veja se ele pode responder as perguntas que Deus fez a Jó! Se não puder, a companhia dele é o melhor que se pode ter.

Quando três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar souberam de todos os males que o haviam atingido, saíram, cada um da sua região, e combinaram encontrar-se para mostrar solidariedade a Jó e consolá-lo. Quando o viram à distância, mal puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou o manto e colocou terra sobre a cabeça. Depois se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento. (Jó 2:11-13)

          Melhor mesmo é que, quando percebermos alguém em meio a muitas dores, nos limitemos a estar presente, e chorar com esse alguém, como fizeram inicialmente os amigos de Jó. A demonstração de solidariedade é o máximo que podemos oferecer e receber em meio ao sofrimento.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O verdadeiro ímpio

                                

"Bem aventurado o homem que não anda segundo os conselhos dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores , nem se assenta na roda dos escarnecedores." (Salmo 1:1)

Esse salmo é um dos preferidos dos religiosos. Muita gente obrigava crianças a decorar essa porção da Escritura. Na mente tacanha de alguns, o ímpio é aquele que não frequenta a "igreja". É qualquer um que não confesse a mesma fé. Os pecadores e escarnecedores, para eles, são aqueles que fazem uma rodinha e gargalham, tomam cerveja, fazem bagunça e coisas parecidas...

A pergunta que temos de fazer diante desse texto, na verdade, não é o que o salmista pensou quando escreveu esse texto e, sim, o que Jesus tem a dizer sobre o assunto e como ele encarnou a Palavra de Deus. Pois afinal, "o verbo se fez carne". Isso quer dizer que Jesus é a encarnação de tudo aquilo que se verbalizou sobre Deus até então.

Olhando para o sentido etimológico da palavra, ímpio é aquele que não é "pio", ou seja, que não tem piedade. E a piedade tem sua maior manifestação na misericórdia, na compaixão. Nada tem a ver com a nossa interpretação simplória de piedade como "esforço religioso de se comportar adequadamente".

Quando olhamos para esse salmo com a perspectiva de Jesus, vemos que ímpio é aquele que não tem espaço para a misericórdia em seu coração. É o sujeito que começou a achar que sabe das coisas e começa a olhar os outros de cima para baixo, com aquele olhar de condenação! Basta ver como Jesus tratou as pessoas enquanto esteve na Palestina.

Jesus andou com com todo tipo de gente! Os mais "mal falados" de sua época! Mas Ele não andava junto aos fariseus. Justamente os mais religiosos de seu tempo. Os mais "justos" aos olhos da sociedade. A "roda dos escarnecedores" naquela época era principalmente o próprio templo! Ali é que as pessoas escarneciam de Deus, enganando os outros em nome do Eterno! É só perceber que Jesus andou com ladrões e prostitutas, mas não se misturava com os religiosos hipócritas!

Ímpio mesmo é aquele que sutilmente nos envenena com mil disfarces. É aquele que, em seu conselho só carrega juízo contra os outros! Não há misericórdia nele. O pecador para Jesus é aquele que não é capaz de se enxergar como tal. Basta ler a parábola do fariseu e do publicano!

Ímpio mesmo é aquele que vive com o dedo em riste apontando os pecados dos outros e vivendo para ditar normas na vida das pessoas.

Jesus é a síntese de toda a Escritura! É sob o ponto de vista dele que devemos nos colocar... Amém!

sábado, 14 de julho de 2012

O Alce e o Lobo




A água do lago estava tão limpa que parecia um espelho. Todos os animais que foram beber água viram suas imagens refletidas no lago. O urso e seu filhote pararam admirados e foram embora.

 O alce continuou admirando a sua imagem:

- Mas que bela cabeça eu tenho.

 De repente, observando as próprias pernas, ficou desapontado e disse:

 - Nunca tinha reparado, nas minhas pernas. Como são feias! Elas estragam toda a minha beleza!

 Enquanto examinava sua imagem refletida no lago, o alce não percebera a aproximação de um bando de lobos que afugentara todos os seus companheiros.

Quando finalmente se deu conta do perigo, o alce correu assustado para o mato. Mas, enquanto corria, seus chifres se embaraçavam nos galhos, deixando-o quase ao alcance dos lobos. Por fim o alce conseguiu escapar dos perseguidores, graças às suas pernas, finas e ligeiras.

Ao perceber que já estava a salvo, o alce exclamou aliviado:

 - Que susto! Os meus chifres são lindos, mas quase me fizeram morrer! Ah, se não fossem as minhas pernas!

Moral da história: Não devemos valorizar só o que é bonito, temos que valorizar o que é útil também.

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Nota editorial UBE Blogs:

"E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom." -  Gênesis 1.25. 

Tudo fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
Tudo fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
do fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
"Tudo fez Deus formoso em seu tempo..." - Eclesistes 3.11.


Autoria desconhecida. Postado originalmente no blog Belverede.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

A maior evidência da presença de Deus



            Uma das mais extraordinárias compreensões sobre o evento do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, narrado no livro de Atos dos Apóstolos, é a de que tal evento é a reversão do que ocorreu na Torre de Babel.

            Na Torre de Babel, o homem queria afirmar seu nome acima do nome de Deus. E, por isso, houve confusão de línguas, de forma que os que ali estavam não se entendiam mais. Cada um passou a falar uma língua diferente. A vaidade, prepotência e egocentrismo resultam nisso: ninguém se entende. Pois assumimos a condição de egos absolutos.

         Quando reunimos um bando de egos absolutos, formamos uma multidão de egoístas, que se acotovela em busca da satisfação pessoal.

          No Pentecostes, ocorre o contrário. Mesmo falando idiomas diferentes, cada um entendia tudo o que se falava, como se estivesse sendo dito na sua própria língua! Os homens são movidos pelo Espírito de Deus e voltam a se entender. A multidão de indivíduos se transforma em comunidade.

           Na multidão daqueles que creram, uma era a mente e um era o coração! Quando o Espírito Santo é derramado sobre nós, nós deixamos de ser uma multidão violenta e egoísta e passamos a ser uma comunidade de partilha. Convertemo-nos não só a Deus, mas, necessariamente, ao próximo.

        A grande evidência da presença de Deus entre nós é a conversão do nosso coração ao próximo. Por isso o fruto do Espírito é amor, paz, alegria, mansidão, fidelidade, domínio próprio, paciência, bondade, benignidade.

        Isto é, o que Deus gera em nós é a capacidade de conviver com o outro, de etnia diferente, de classe social diferente, de cultura diferente, de ideias diferentes, de temperamento diferente, e, ainda assim, manifestar o amor de Deus na vida dessas pessoas diferentes.

         Que possamos aprender a abrir mão de nossos direitos e prerrogativas em prol do outro. Amém!


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Uma Igreja relevante

            

           Em que pese o querer de alguns religiosos mais conservadores, vivemos tempos em que as pessoas precisam enxergar sentido naquilo que fazem. Tão logo tenham chegado à idade das próprias escolhas, jovens e adolescentes têm abandonado suas comunidades locais por não encontrar motivos coerentes para estar lá.

      O discurso convencional já não satisfaz. Métodos obsoletos já não agradam. O excesso de tradicionalismo, ou o culto à própria personalidade do líder, já não sacia a alma dos meninos e meninas que vivem lutas constantes e complexas - interiores e exteriores -  no seu dia-a-dia.

         Precisamos de um Igreja que nos proponha possíveis respostas para as nossas perguntas reais e concretas de hoje! Não importa muito se os encontros serão no templo, nas casas, nas lanchonetes, nos parques ou em qualquer outro lugar.

           As perguntas de hoje não são as mesmas de 50 anos atrás. Por isso o discurso e as respostas não podem ser as mesmas. Pois, do contrário, a fala do pregador seria mais para as paredes do que para os seus ouvintes. Precisamos de urgente contextualização com as angústias das novas gerações. Nossos anseios são semelhantes ao de Agostinho, quando diz:

            "Vou beber dessa fonte e por ela encontrar minha vida autêntica."

           Queremos beber da fonte de águas vivas! Queremos que nossa fé faça sentido em meio ao mundo caótico em que vivemos, para que nossas vidas tenham sentido. E para isso, precisamos rever nossos conceitos sobre o que seria "manter as raízes do Evangelho". Pois é possível que, misturados à sã doutrina, estejam conceitos criados para atender a moralismos e formalismos totalmente ultrapassados.

           Em determinadas igrejas, raramente o sermão expõe a Bíblia, pois quase sempre começa com um versículo e acaba tratando do que pode e do que não pode. Alguns ficariam estarrecidos com o número de pessoas que sai pela porta dos fundos de suas igrejas, rejeitando e odiando o cristianismo, devido a esse rigor legalista sobre usos e costumes. (É proibido. O que a Bíblia permite e a igreja proíbe. GONDIM, Ricardo. São Paulo, Mundo Cristão. p4)        

         Precisamos enxergar que não estamos no Fantástico Mundo dos Crentes e que devemos discutir questões atuais, que realmente interessam aos mais jovens, sob pena de ver nossas congregações se esvaziarem desse público, que tem sofrido com a engessada sistemática de algumas lideranças.

             Jesus nos ensinou que a relevância de sua vida, morte e ressurreição seria percebida somente se os seus seguidores vivessem a radicalidade de seu amor e encarnassem seu estilo de vida: "Um novo mandamento vos dou: Amem-se uns aos outros. Como eu vos amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros... (...) (João 13:33,34) [Ed René Kivitz]

        Que Deus nos dê paciência, sabedoria e, sobretudo, o amor, para que possamos conviver em harmonia uns com os outros e aprender a ser uma Igreja relevante, num mundo de gente sedenta por Deus e por respostas que, somente Nele, podem ser encontradas. Amém!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Os perigos da religião



              A experiência religiosa é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que conforta e nos faz infinitamente melhores, também pode fazer com que o religioso comece a se enxergar como um ser humano acima da média. E acabar pensando que os outros, que não pertencem à sua religião, são maus. Eis aí a grande armadilha!

              Essa semana uma professora foi acusada de incentivar o bulling religioso na sala de aula. A educadora tinha o hábito de orar junto com a turma durante suas aulas. Não demorou muito para que um dos alunos, praticante do candomblé, recusasse-se a participar daqueles momentos. Os alunos então passaram a perseguir o colega sob a acusação de ser "macumbeiro".

              Ser luz para o mundo nada tem a ver com distribuir panfletos no trabalho ou fazer orações com os funcionários de uma empresa. A fé cristã não incentiva ninguém a constranger pessoas que não compartilhem da mesma espiritualidade.

           Demonstrar o caráter de Cristo tem a ver com atitudes, principalmente atitudes que fazem o bem aos outros. Se isso acontecer, você nem precisará falar sobre sua religião, pois o amor vai ficar explícito na sua vida e as pessoas vão dizer: "- Eis aí um cristão".

É por isso que o Apóstolo Paulo disse o seguinte:

           "O que dizer de você? Você diz que é judeu, confia na Lei e se orgulha do Deus que você adora. Você sabe o que Deus quer que você faça e aprende na Lei a escolher o que é certo. Você tem a certeza de que é guia dos cegos, luz para os que estão na escuridão, orientador dos que não têm instrução e professor dos jovens...Você se orgulha de ter a LEi de Deus, mas você é uma vergonha para Deus porque desobedece sua LEi. Pois as Escrituras Sagradas dizem: "Os não-judeus falam mau de Deus por causa de vocês, os judeus" (Rm 2:17-24)

         O texto foi escrito para falar aos judeus, mas cabe perfeitamente no contexto dos cristãos contemporâneos. Nos esquecemos de que todos nós somos filhos de Adão. A natureza do cristão é idêntica à do umbandista. Partimos do mesmo ponto. E não há razões para que nos sintamos melhores, mais justos ou mais puros do que os outros, pois do contrário, seríamos como aquele fariseu que se orgulhou de não ser pecador como o publicano, dizendo: "Eu te agradeço por não ser imoral como as outras pessoas" (Lc 18:9-14). Todos somos culpados (Rm 3:9-20)

          Que Deus nos perdoe a arrogância e transborde nosso coração de amor por todos os nossos semelhantes, sejam eles do candomblé, da umbanda, do espiritismo, do budismo, do hinduísmo e de todos os outros "ismos" que possam existir. Afinal, somos pó. E a graça e as misericórdias do Senhor são a razão de não sermos consumidos!

terça-feira, 13 de março de 2012

Missionários do dia-a-dia



        Nesse fim de semana minha comunidade local recebeu uma missionária que trabalha no Senegal. É impressionante como Deus chama e capacita jovens que deixam vários projetos de vida para trás em busca de evangelizar os chamados "povos não alcançados". Glória a Deus por isso! São povos que carecem de cuidados básicos como saúde, educação, moradia, etc. Fico muito feliz que haja pessoas vocacionadas para estar em meio aos necessitados de outras nações!

           Nos últimos anos, porém, fui despertado para enxergar também o fato de que a missão da igreja não é apenas transcultural, ou seja, não precisa envolver o cruzamento de fronteiras geográficas. Nós, cristãos, precisamos resgatar o conceito de vocação. Afinal a agenda do Reino de Deus não é feita somente de atividades religiosas.

       O texto de Mateus 25:31-46 nos lança luz sobre um tema um tanto relegado: a necessidade da expressão concreta do amor de Deus por parte dos discípulos de Jesus. No texto supracitado, Jesus diz que os que vão entrar no Reino são aqueles que deram de comer a quem tem fome, deram de beber a quem tem sede, vestiram aos que estavam necessitados de roupas, etc.

           Nossa vocação principal é estar infiltrado na sociedade como agentes do Reino. Portanto, precisamos incentivar nossos adolescentes a serem "pastores" dentro de uma sala de aula, de um escritório de advocacia, de uma empresa de informática. Pois o Reino de Deus é muito maior do que a nossa igreja local. Devemos ser instrumento de Deus, sendo fisioterapeuta, psicólogo, gari, motorista de ônibus. Esses são missionários anônimos do cotidiano.

          Chegou a hora de entender que é preciso desenvolver o caráter de Cristo para estar no mundo do trabalho influenciando pessoas através do amor concreto. Nossa missão deve ser servir. E servir em tempo integral, sem precisar deixar sua carreira secular. Por que a questão toda é o que estamos fazendo na segunda-feira, porque no domingo, está tudo em paz!

          "A igreja existe para equipar e mobilizar homens e mulheres para a missão de Deus no mundo." (C. René Padilla)

              A missão precisa ser feita de forma integral, ou seja, não basta a mera comunicação oral. É preciso ter atitudes práticas. Qual foi o problema do rico, na parábola de Lázaro? Justamente a indiferença diante do sofrimento do necessitado. A maldade estava diante dos seus olhos e ele não se levantou contra ela. A bondade do Pai não estava nele suficientemente arraigada para que ele manifestasse o bem, a misericórdia, a justiça, o amor. Portanto não há "Deus" nele. E por isso seu lugar foi a perdição eterna.

             Nossas igrejas precisam formar gente para viver em meio às trevas do nosso próprio bairro e continuar sendo luz. Que seja essa a nossa preocupação: viver de forma a transbordar a luz de Cristo em qualquer ambiente que vivamos, nos importando com o próximo. Isso é missão. Essa é a forma de vivê-la de forma integral. Se assim fizermos, ouviremos naquele grande dia: "Vinde benditos de meu Pai! Possuí por herança o Reino que vos tenho preparado desde a fundação do mundo..."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A privatização do Divino



             Quem pertence a uma religião acaba correndo o risco de passar a achar que a sua compreensão do divino é a única correta. A única possível. Isso implica grande perigo. Quando confundimos o Jesus do século primeiro com o Jesus neoevangélico, por exemplo, incorremos numa grave distorção.

             "O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mt 8:20). Isso foi o que Jesus disse. O Filho do Deus vivo não fez para si ao menos uma cadeira, apesar de ser carpinteiro... Será que é possível imaginar esse Jesus numa igreja evangélica hoje? Se ele declarasse que não tem onde reclinar a cabeça, seria repreendido pelo "apóstolo". E pior: seria repreendido em nome de Jesus!

              Afinal, o que é isso, Jesus? Teu Pai te pôs como cabeça e, não, como cauda... Você é filho do Rei e está aqui para "comer o melhor dessa terra". Jesus seria discipulado por alguém que lhe diria que Ele precisa deixar de pensar pequeno. Pois "Deus tem grandes bênçãos para os seus". Que mal há em querer ter casa de praia, carro do ano, fazer viagens a Europa, ser chefe, dono de empresa?

              Infelizmente há muita gente que se apropria de bordões gospel e pensa que isso é ser cristão. Como se chamar aos outros de "abençoados" ou "varão", demonstrasse a "santidade" do indivíduo... Tenho muita dificuldade de lidar com gente que tenta provar pra todo mundo sua espiritualidade "acima da média".

           É triste constatar isso. Mas parece que se Jesus tivesse vindo ao mundo nos nossos dias, Ele não seria um "bom evangélico"...

            Aliás, muita gente precisa enxergar que a sua versão do Evangelho é apenas uma versão. Não é a única e, portanto, não é, necessariamente, a melhor. Por isso o Criador pode não ter a forma que atribuímos a Ele. Por isso não se pode privatizar a Deus. Ele está muito acima de todas as características que podemos atribuir a Ele.
               

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O complexo de Marta


         
         É interessante como as passagens registradas ao longo das Escrituras refletem muito daquilo que somos enquanto seres humanos. O Evangelho nos relata uma das visitas de Jesus á casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro (Lc 10:40). Marta recebeu Jesus em sua casa, mas ficou muito ocupada com todo o trabalho da casa. Enquanto isso, Maria, a sua irmã, ficou sentada aos pés de Jesus ouvindo o que ele ensinava.

        Marta vendo isso, perguntou a Jesus: - O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar! Mas Jesus respondeu: - Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.

        É nítido que Marta tinha enorme amor por Cristo! Ela o recebeu em seu lar, o tratou muito bem e estava preocupada em fazer o melhor para Ele. Ela queria oferecer a Jesus o máximo que lhe era possível. Já Maria, do seu jeito, também O amava muito. E preferiu absorver o máximo de conhecimento espiritual oferecido por Jesus.

         São duas condutas diferentes. Mas perceba que ambas as irmãs amam Jesus. Mas cada uma delas tinha uma visão diferente a cerca do que fazer para expressar seu amor. Uma queria muito agradá-lo. A outra queria ficar aos pés do próprio Deus encarnado, aprendendo tudo o que fosse possível e desfrutando de sua divina companhia.

       Será que temos dado prioridade àquilo que realmente importa? É muito bom agradar a Deus com nossos afazeres, com as coisas que supostamente fazemos "para Ele". Mas o próprio Cristo nos ensina que aprender com Ele, ter comunhão, dar atenção à dimensão espiritual, sempre será mais importante do que fazer coisas "para ele".

      Muitas pessoas estão discutindo, agredindo e ofendendo seus irmãos por causa das coisas que pretendem fazer "para Deus". Costumo chamar isso de ativismo religioso. Há muita gente ativista nas comunidades cristãs. Gente com a melhor das intenções. Mas que deixam de lado a parte mais importante em prol das atividades religiosas do templo.

        Mais um congresso, mais uma reunião, mais uma assembleia, mais um culto. Tudo isso tem o seu valor. Mas não pode suplantar o mais importante: estar aos pés de Jesus. E muitas vezes, para ficarmos aos pés de Jesus, em comunhão com Ele, precisamos abrir mão de fazer as tarefas que supostamente são feitas para Ele.

         Pode ser que ficar aos pés de Jesus, signifique acudir alguém em detrimento, inclusive, de comparecer a alguma atividade da igreja. Pois pessoas sempre serão mais importantes do que as tarefas, conforme nosso próprio Pai Celestial nos ensina...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Essa tal felicidade

           

          Você já parou para pensar que é impossível encontrar felicidade sem haver amor? As relações de amor fazem com que nós nos sintamos plenos, completos! E relações de amor não podem ser encontradas sem que haja pessoas, pois relacionamentos só podem existir se houver pessoas!

       Não por acaso o nosso Deus é triúno! O mesmo Deus é Pai, Filho e Espírito Santo! Isso é extraordinário, porque o nosso Deus, em si mesmo, é pleno em sua relação de afeto. É uma eterna comunhão de amor, onde o Pai ama o Filho, o Espírito ama o Pai, o Filho ama o Pai e o Espírito, e por aí vai...

           Parece que o Eterno, em si mesmo, já nos demonstra que a plenitude da existência se encontra nos relacionamentos! É por isso que você jamais conhecerá um egoísta que seja feliz!

              "O coração do homem tem um vazio do tamanho de Deus." (Dostoiévski).

             Somente Deus é capaz de preencher o eterno vazio do nosso coração. Não é a casa nova, não é o carro novo, não é a faculdade. E acontece, meus amigos, que na nossa experiência humana, concreta, Deus é encontrado na face do outro. Deus é "concretizado" através dos nossos relacionamentos. Pois "ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor" (I Jo 4:12).

           Segundo a cosmologia da Escritura Sagrada, é IMPOSSÍVEL alguém se aproximar de Deus, sem que se aproxime das pessoas. Porque "Se alguém diz: 'Eu amo a Deus', mas odeia seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar ao seu irmão, a quem vê." (I Jo 4:20).

        Portanto, a experiência com Deus é vivida através das relações de amor. E ninguém desenvolve relações de amor num quarto isolado, nem apenas com livros abertos em torno de si, muito menos se enfastiando de atividades eclesiásticas e rituais religiosos.

         Sendo assim, se alguém quer "mais de Deus", que aprenda a querer mais do seu próximo... É assim que se alcança essa tal felicidade. Abrindo mão de nosso egocentrismo e vivendo em prol do outro. Só assim ficamos livres da escravidão de ter de servir ao nosso próprio ego.

           Amém!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Na tempestade com Deus de verdade

        
        Quando se vive com fé num deus supersticioso, num deus ritualista, num deus que promete dar somente vitórias a quem lhe for fiel, basta a vida dar a primeira pancada no suposto "novo convertido" que ele joga tudo pro alto e parte para uma nova religião, para o ateísmo, para o sincretismo ou, pior ainda, para o cinismo! 

         O que o Evangelho promete não é suspensão da realidade , é força pra suportar a realidade. Por mais difícil que seja, temos de caminhar pela fé, sem saber o que irá acontecer. O Evangelho não promete que as realidades mudarão para nos beneficiar por sermos filhos de Deus, mas que nós conheceremos dentro de nós a presença de Deus de tal modo que, pela Sua Palavra, a própria realidade vai ser menor do que aquilo que se instalou, em fé, no nosso coração! 

       O poder que Jesus nos garante não é poder pra amarrar ventos, é pra enfrentar ventos! Nosso lugar seguro está na Palavra de Jesus. Não lemos a Bíblia somente para aprender sabedoria para a vida. Ser cristão também não é obedecer regras morais! Não são dicas de como se viver bem... É certeza de que Ele vai estar conosco em meio as dificuldades da vida!

        Não é que vá aparecer dinheiro de forma milagrosa em nossa conta corrente, é que a transformação da tua vida operada por Cristo vai te trazer, aos poucos, um novo equilíbrio. E assim você vai se ver livre do consumismo que te fez se endividar. E enquanto esse processo vai acontecendo, você vai tendo forças para prosseguir sem pensar em suicídio.

        Assim como fez com Pedro, o Deus verdadeiro, que se revelou na pessoa de Jesus, nos mostra que é possível ter a experiência de andar sobre as águas, mas que é possível que tenhamos de suportar a experiência do afogamento! Mas em ambos os momentos Ele está conosco!

         Que tenhamos a benção de conseguir senti-Lo pelo caminho da vida! Amém!


sábado, 3 de dezembro de 2011

A verdadeira identidade

        

        José, um dos filhos de Jacó, acabou sendo vendido por seus próprios irmãos como escravo para os egípcios. Certamente ele chegou a se sentir um desprestigiado por estar passando por aquela humilhante situação. Mas dessa circunstância extremamente ruim, Deus tirou excelentes resultados. José tornou-se homem de confiança do Faraó quando desvendou seu sonho e ajudou o Egito a estocar alimentos para se preparar para sete anos de fome.

        José passou bastante tempo no Egito por causa disso. Usou roupas egípcias, comeu comida egípcia,  vivia misturado aos egípcios e até ganhou um nome egípcio: Zafenate-Panéia. José se tornou governador do Egito, um cargo que era subordinado direto do Faraó, maior autoridade egípcia.

       Aquele jovem que chegara àquela terra com o status de escravo, agora era braço direito de Faraó. Tinha muito poder! E o desafio para esse rapaz agora era não se esquecer de sua identidade. Por mais que ele estivesse em terra estrangeira, casado com uma estrangeira, com filhos nascidos naquele lugar, com uma cultura diferente, costumes diferentes, religião diferente, ele precisava se lembrar que ainda era José, o hebreu. Ainda que ali ele fosse chamado Zafenate-Panéia e vivesse como se fosse um egípcio, dentro de si, ele sabia que continuava sendo um filho de Yahweh, o Deus de Israel.

       Nosso grande desafio hoje, é, também, viver no "Egito", usar roupas egípcias, trabalhar no governo egípcio, numa cultura egípcia, mas não perder a identidade de "hebreu". Estamos imersos em uma sociedade de valores invertidos, cultura consumista, costumes cada vez mais contrários aos valores cristãos, mas precisamos ter consciência de que somos "José", e não, "Zafenate-Panéia". Estamos no mundo, mas não pertencemos a esse sistema do "mundo". Nossa presença em meio à sociedade é essencial, pois precisamos mostrar a todos o que é ser filho de Deus, mas não podemos nos esquecer de quem somos: peregrinos nessa terra!

           Te vejo na pátria celestial, lá é nossa casa!

sábado, 12 de novembro de 2011

Quando tudo não é o bastante



         A palavra hebraica "shalom", que geralmente é traduzida como "paz", na verdade significa muito mais do que isso. Ela traduz a plenitude. Ela simboliza a plena saciedade. "Shalom" quer dizer harmonia, estado máximo de bem-estar. É isso que Deus deseja para a humanidade. Mas este estado de vida somente é possível de ser alcançado por aqueles que desfrutam de um relacionamento pessoal com o Criador.

         O rabino Harold Kushner fez uma brilhante leitura do livro de sabedoria hebraica chamado Eclesiastes. À esta sua obra o autor deu o título "Quando tudo não é o bastante".  A Bíblia Sagrada nos mostra que dentro de nós há um abismo, um poço sem fundo. Esse vazio somente pode ser preenchido pelo shalom de Deus. Sem Deus, não adianta ter tudo aquilo que a vida pode oferecer de bom. Por isso vemos tanta gente que tem de tudo e, ainda assim, vive com um infinito senso de falta. Precisa sempre de mais um gole, de mais um trago, de mais uma propina, de mais uma transa ilícita num lugar perigoso.

         É por isso que na oração que Jesus nos ensinou, o "Pai Nosso", Ele nos orienta a pedir o "pão de cada dia". Não é de comida que Ele está falando. O próprio Cristo nos disse que não precisávamos nos preocupar com o que haveríamos de comer. O que Ele quer nos mostrar aqui é que devemos pedir a Deus não o pão material, mas o pão que nos sacia eternamente, o Pão da Vida. Devemos ansiar pela fartura plena. Aquela que preenche os buracos da alma! Pois, infelizmente, há aqueles que tudo têm, mas esse tudo nunca é o suficiente.

        Sem Deus, mesmo que tenhamos tudo, esse tudo não será o bastante. Caminhar com Jesus não é seguir códigos morais, dogmas e rituais religiosos. Andar com Cristo é aprender a ter saciedade plena. É aprender a desenvolver essa satisfação espiritual, independentemente das coisas que possuímos ou deixamos de possuir. O maior bem que precisamos ter é a intimidade com o Senhor! Pois, assim, aprendemos a estar contente em toda e qualquer situação.

       O apóstolo Paulo também nos ensina isto quando diz: "Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece" Fp 4:12-13.

        Que nós possamos aprender a ter a plena paz a cada dia. Fartura de alegria. É curioso como Deus dá dons diferentes às suas criaturas e estas, ainda que não estejam conscientes, declaram a grandeza das Suas obras... Aliás, pode ser que tenha sido nisso que pensou a cantora Marisa Monte, quando fez sua descrição de Paraíso, que talvez seja uma das melhores já feitas:

Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá

Por cima das casas cal
Flores em qualquer quintal
Peitos fartos
Filhos fortes
Sonho semeando o mundo real

Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção

Tem um verdadeiro amor
Para quando você for...

        Quanto mais próximos formos de nosso Criador, mais teremos a sensação de saciedade e de plenitude, que vem dele. Pois certo é que nenhuma riqueza desse mundo pode satisfazer um coração com sentimento de eterna falta, pois este tem dentro de si uma sanguessuga. Que o nosso objetivo seja nos enchermos daquele que sacia a nossa alma, o Pai celestial.

Shalom!


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bicho, coisa ou gente?



            Um dos grandes males do Século XXI é a coisificação das pessoas. Parece-me claro que Deus criou as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas. Mas o grande fenômeno da nossa sociedade pós-moderna é justamente o oposto, usamos pessoas e amamos coisas. O amor exagerado às coisas e o uso indiscriminado das pessoas. Isso sim pode ser chamado de um grande pecado, pois deturpa a imagem e semelhança de Deus em nós! Quando alguém trata um ser humano como uma coisa, mesmo que não saiba, ofende a dignidade intrínseca que nos foi dada justamente por termos sido feitos à imagem e semelhança do Criador.

            A busca desesperada pela tríade mais famosa do mundo moderno - sexo, poder e dinheiro - conduz as pessoas à perdição. Gente atropelando gente. Gente tratando gente como bicho com um único objetivo: mais sexo, mais poder e mais dinheiro. Esse caminho é terrível,pois destrói não só aquele que vive nele, mas também seus familiares. Quantos lares já ruíram por causa dos desejos desenfreados e cegos de alguns!

            Quanto mais cativos dessas paixões sem limites nós somos, menos humanos nos tornamos. A gente acaba se tornando um ser bestial. Movido pelo instinto animal. A coisificação das pessoas anula a integridade que é própria daqueles que foram feitos com tanto cuidado por seu Criador. Jesus nunca exigiu de seus seguidores que eles fossem seres "desencarnados", que se abstivessem de viver suas vidas e as curtissem da melhor maneira possível. A questão é se nós temos feito isso de maneira sadia, segundo a perspectiva cristã.

            Os instintos animais estarão sempre presentes em nossas vidas. Até porque, no caso do sexo, por exemplo, trata-se de uma questão de sobrevivência da humanidade. Sem sexo a humanidade se extinguiria. O problema todo é como nós estamos lidando com a questão sexual. Se nós somos daqueles que nos deixamos levar pelos instintos naturais, precisamos repensar o assunto. Pois Cristo nos ensina a dominar nossos apetites e nossos desejos.

            Precisamos é deixar de viver como bichos. Somos humanos e podemos decidir o que fazer com nossos apetites. Somos a única espécie que tem a prerrogativa de não precisar seguir os próprios instintos. Precisamos transcender as nossas animalidades! Os desejos são sinais até de boa saúde. Portanto, não é razoável imaginarmos que um sujeito convertido deixará de ter desejos. É saudável ter seus desejos despertados.  Mas é nossa tarefa usar nossa dimensão humana para direcionar o alvo dos nossos desejos.

             Não é legítimo que se use pessoas como objetos de satisfação pessoal para depois se jogar fora o bagaço, os restos. Na tradição da espiritualidade cristã nós aprendemos que o sexo entre duas pessoas as faz ser uma só carne. É uma relação de amor e afeto. É uma construção transcendental e profunda de sentimentos. O que a Bíblia quer nos dizer é que o caminho de bestialização do ser humano é um caminho que nos leva a destruição, não só da nossa vida, mas de tantas outras vidas que se envolvem com a gente.

            Nosso apetite legítimo não é de sexo, pois nós não somos bichos. Nós não vivemos os ciclos do cio como os outros animais. Nosso apetite, no fundo, é por afeto! Somos seres que podemos refrear nossos impulsos. Aliás, é justamente a capacidade de domínio próprio que permite que a humanidade continue existindo com um mínimo de paz, pois se cada um seguisse seus próprios instintos e desejos, o caos reinaria na Terra e o ser humano estaria com seus dias contados.

          Houve um tempo em que o dinheiro era visto como algo demoníaco pelos cristãos. Porém, hoje cremos que ele pode ser uma bênção desde que não seja elevado à categoria de "deus". O dinheiro tratado como um deus é chamado por Jesus de "Mamon", pois se torna um ídolo. Esse sim é perigosíssimo, pois nosso instinto é passar por cima de tudo e todos para conseguir nosso próprio conforto. E junto com ganância pelo poder, faz grande estrago nas vidas de muitas famílias.

              É regra de ouro do Cristianismo negar a si mesmo, lutar contra nossas tendências egoístas. Que nós possamos refletir sobre isso a cada dia. Não somos bichos que precisam fazer tudo aquilo que sentem vontade de fazer. Para que haja vida em sociedade, é necessário que nós deixemos de fazer somente o que queremos para fazermos aquilo que precisamos fazer em prol do outro, do próximo. Que assim seja!



                

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Grande Proposta Existencial

     

   
Mateus 25:31. ""Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda."Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: 'Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram'. "Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?' "O Rei responderá: 'Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'. 
            Sabemos que Deus age na história da humanidade transformando maldosos em bondosos. Homens e mulheres que eram maldosos, mas que nascem denovo, fruto da interferência e intervenção da graça de Deus! E se tornam, então, agentes da bondade. Se levantam em oposição à maldade. Quando esse exército é renascido, ele avança e ninguém pode parar! Por isso o julgamento, quando somos indiferentes, é: "Eu tive fome e vocês não me deram de comer"... "Vocês não foram o contraponto do mal. A maldade estava diante dos seus olhos e vocês não se levantaram contra ela. O caráter de meu Pai não estava suficientemente arraigado para que vocês expressassem, diante do mal, o bem, o amor, a graça, a solidariedade, a justiça, a misericórdia... Então não há de Deus em vocês... Então o lugar de vocês é a perdição..."

           Deus interpela a Igreja para amar através do grito do Filho. Todo ato de solidariedade é uma resposta do Pai ao clamor do filho. É assim que Deus escolheu agir na história da humanidade. Deus ouve o clamor do filho e envia a Igreja como resposta. A Igreja em sentido espiritual, não a instituição Igreja. Neste texto nós vemos Jesus, não naquele que doa, mas naquele que está necessitado. A divindade presente nesta narrativa está naquele que clama! Esse, inclusive, é o mesmo problema do rico na parábola de Lázaro. A indiferença diante da necessidade do próximo!

           Infelizmente a nossa juventude, hoje, é vazia de sonhos! Carecemos de propostas existenciais. Será que o objetivo de nossas vidas será tão somente passar no vestibular, conseguir um emprego legal e comprar um carro maneiro? Não que isso não seja legítimo, mas será que esse é o máximo que podemos almejar? Não falo de conquistas materiais, mas de sonhos coletivos. Utopias mesmo. No melhor sentido da palavra. Estamos carentes de propostas existenciais legítimas e não há melhor proposta do que o Reino de Deus!

           Aqueles que se sentem vocacionados ao Reino pensam em ser pastores, missionários, ministros. Será que alguém pensa em ser vocacionado infiltrado na sociedade? Será que entendemos o que quer dizer: "ser sal"? Porque o sal não pode salgar nada quando fica retido dentro do saleiro! Sejamos pastores numa sala de aula. Sejamos missionários num consultório. Sejamos ministros em meio a podridão do judiciário desse país!

           Precisamos compreender a Missão da Igreja de forma integral, onde a igreja vai para as ruas não para proclamar somente arrependimento e fé para uma salvação privativa. Mas para proclamar que o Reino de Deus chegou e está entre nós. Pois a missão nos foi dada em função da chegada do Reino: "Todo o poder me foi dado no céu e na Terra, portanto ide..." O foco é a chegada do Reino! A missão é sinalizar o Reino. Viver na história de maneira que o Reino seja como aquela cidade edificada sobre o monte, que não se pode esconder. E se alguém quiser entrar nessa cidade precisa se submeter ao seu Rei. Para estar no Reino é preciso nascer denovo. Mas nascer denovo não é um fim em si mesmo. O que nós precisamos é resgatar o conceito de vocação. A coisa não termina quando se levanta a mão na igreja.

            Sim, precisamos rever nosso conceito de vocação pastoral! A agenda do Reino de Deus tem como vocacionados os que dão de comer a tem fome, os que dão de beber a quem tem sede. Aqueles que constroem nossas casas. Aqueles que concertam os carros. Por isso Jesus não diz: "Vinde bendito de meu Pai, pois eu não conhecia o Evangelho e você me deu um folheto!" Ele diz: "Eu tive fome e você me deu de comer... Eu estava morrendo num corredor de hospital e você me atendeu".


            A vocação não precisa passar pelos corredores da religião. Até porque, uma Igreja que quer lavar os pés da nação, tem que ser uma igreja laica! Precisamos multiplicar SERVOS nas igrejas e não, clientes! Nossa vocação é estar no mundo, proclamando o Reino de Deus... É a utopia que move o nosso coração! E já que nós vivemos mesmo de utopias, tenhamos mais essa... Aí, sim, vamos ouvir: "Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo!" 



domingo, 11 de setembro de 2011

O cristão no mundo do trabalho

      
      A rotina de acordar quando ainda está escuro, todos os dias, e pegar um ônibus lotado, passando horas a fio nele, desanima qualquer um. Se o seu trabalho não é aquele que você pediu a Deus, então, o martírio é pior ainda!

      O trabalho é algo planejado para o homem desde sua criação. Não é fruto do castigo divino pelo pecado. Na expulsão do Paraíso, o suor do rosto é que é o ônus acrescido. Ou seja, já havia trabalho antes da expulsão do jardim do Éden, porém, não havia sofrimento. O mandato cultural de Deus para o homem é que ele povoe a Terra e cultive o jardim. (Gênesis 2:15). É através do trabalho que Deus nos mostra que nós colaboramos com Ele na obra da criação. Toda a criação até hoje trabalha, assim como o Criador também. (João 5:17)

      Nos tempos pós-modernos, apesar de cada um querer segurar seu emprego com unhas e dentes, todos querem que seu trabalho tenha algum sentido. A espiritualidade no mundo do trabalho é uma resposta ao extremismo materialista do capitalismo. Precisamos, no entanto, fazer a distinção entre espiritualidade e religião. Religião é apenas a forma como as pessoas sistematizam sua espiritualidade. Espiritualidade é uma dimensão humana. Todos têm espiritualidade. A religião no mundo do trabalho causa divisões. Já a espiritualidade traz harmonia, pois ensina o amor, a tolerância, a ajuda mútua, o perdão.

      Na Idade Moderna, o homem tratava o  mundo como um mecanismo e não como algo vivo que precisa ser preservado. O conceito de mundo-máquina era amplamente difundido e o que importava era extrair do planeta o máximo de recursos que ele pudesse oferecer. Certo teólogo italiano  diz que:
         “A civilização industrial não cumpriu suas promessas: em vez de oferecer um mundo segundo a medida do homem, em que este pudesse viver e morar procurando o bem comum, trouxe-nos, entre outras coisas, o critério da produtividade como parâmetro de valor, a massificação e a manipulação das pessoas, uma angustiante incomunicabilidade, um futuro ameaçador, a atrofia dos sentimentos e a poluição ecológica”. 
Stefano de Fiores

        Hoje sabemos a importância do conceito de sustentabilidade para a preservação da espécie. A visão integral do ser humano, em suas dimensões biológica, psicológica, social e espiritual, nos mostra que nós queremos mais do que trabalhar para sobreviver. Queremos nos sentir satisfeitos com um trabalho que não agrida nossos valores morais e éticos. Afinal, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte..."

        Todo trabalho tem sua dimensão sagrada. Deus está trazendo o Universo de volta para casa através da redenção. Portanto, Ele trabalha transformando o malvado em bondoso, num processo onde nós cooperamos para que O Reino de Deus, que já foi inaugurado por Jesus, seja demonstrado agora e consumado plenamente na eternidade. Por isso, nosso trabalho não é "secular". É um sacerdócio. É um Ministério seriíssimo cooperar com Deus para que haja o mínimo de organização social em meio ao caos do mundo.

       Assim, quando estamos virando a massa da obra; dando aula na escola; redigindo uma petição; fazendo uma obturação; fazendo faxina na casa, estamos todos exercendo a função que nos cabe dentro do mandato de Deus para que o mundo seja habitável até que o Reino seja consumado.

       Nesse sentido, Deus conta conosco para que façamos parte da sociedade e a influenciemos, e, não, para que nos isolemos formando um gueto religioso. O princípio protestante ensina que não há divisão entre sagrado e profano, entre clero e leigo, entre dia santo e dia não-santo . Transformamos nossa atividade em trabalhos para Deus sendo os profissionais mais competentes e éticos que podemos ser. Pois Deus se manifesta em todos os ambientes criados por Ele. Fazemos nosso trabalho para abençoar e servir pessoas.

         Você acha mesmo que o seu trabalho secular te impede de "servir a Deus"? Você acha que se "serve a Deus" exclusivamente na igreja e no espaço religioso? Toda atividade profissional honesta é digna e é a resposta ao mandato cultural de Deus. Trabalhamos para que o mundo seja muito mais parecido com um jardim do que do com uma terra amaldiçoada. Nós somos, nos movemos e existimos em Deus. É impossível alguma coisa existir fora de Deus. O que é possível é existir sem consciência de Deus, em rebeldia a Deus, mas nunca fora de Deus, pois fora dele, nada existe... (Atos 17:28)

     O Apóstolo Paulo convoca todos os trabalhadores para servir a Deus através de suas tarefas profissionais: "Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradar os homens quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem ao Senhor. Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo".[Colossenses 3.22-24]

        O trabalho é um serviço prestado a Deus – é a Cristo, o Senhor, que nós estamos servindo quando acordamos na segunda-feira pela manhã para encarar a rotina da semana. Quem quer servir a Deus não precisa abandonar sua carreira ou se aposentar. Por que não ser  missionário dando aula em escola pública? Por que não ser missionário sendo advogado honesto em meio ao judiciário podre. Por que não ser missionário tornando mais limpas as ruas da cidade? É à luz de tudo isto que podemos compreender o texto de Mateus 25:31-46.

         Pois nesta parábola, os que possuem o Reino como herança são aqueles que dão de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede; os que visitam os presos, os doentes, os que dão roupa aos que estavam nus. Vemos que as palavras de Jesus não são taxativas. Elas exemplificam algo que pode ser ampliado. Por que não estender a ideia também para quem ajuda a construir a casa onde os outros moram, àqueles que ensinam aos analfabetos, ou àqueles que trazem energia elétrica aos que viviam à luz de velas?

          Perceba que na fala de Jesus não é quem entrega um folheto a quem ignorava o Evangelho que entra no Reino Deus. Ele não diz: "Possuam o Reino, pois fui incrédulo e vocês me ensinaram as dez semelhanças entre José do Egito e Jesus de Nazaré... Os herdeiros do Reino são aqueles que não necessariamente passaram pelos corredores da religião. Pois uma Igreja que serve ao próximo e que lava os pés da Nação tem de ser uma Igreja Laica
“O propósito de Deus não é que os seres humanos se tornem anjos, nem mesmo religiosos, mas que se tornem completamente humanos [...] e nos tornamos totalmente humanos relacionando-nos com Deus e construindo uma comunidade humana [...] (nosso) futuro não é tornar-me uma alma imortal lá em cima no céu – isso é idéia dos gregos – mas uma pessoa completamente ressurreta em uma criação inteiramente renovada, em um novo céu e uma nova terra”. 
  Paul Stevens 

         Queremos mesmo construir um mundo melhor no nosso ambiente de atuação. Não vamos mudar o mundo, mas podemos fazê-lo um pouco melhor nos lugares onde nós passamos. É essa a perspectiva cristã de trabalho. Essa é a "utopia" do Reino de Deus. E é a utopia que move o coração humano.

        Trabalhamos para construir um novo mundo, inclusive o nosso, que começa dentro de nós. O novo mundo é inspirado no novo céu e na nova terra, a utopia de Jesus em seu anúncio do Reino de Deus, um reino de justiça, paz e alegria, um reino de shalom: prosperidade de tudo para todos, que começa aqui e agora e se concretiza definitivamente ali e além, tem seu início na história e se consuma na eternidade. Mas o novo mundo nos afeta pessoalmente, e é também o nosso mundo, a nossa prosperidade, o ambiente de prosperidade para nós mesmos e os que estão ao nosso redor, especialmente nossa família e comunidade de amigos. É com o nosso trabalho que temos pão à mesa e mesa farta, para nós e para os nossos. E quanto mais abrangente esse universo que chamamos nosso, quanto mais pessoas forem incluídas nas fronteiras do “nosso mundo”, mais profunda e abrangente será nossa experiência do Reino de Deus.
Ed René Kivitz


        O Reino de Deus está dentro de nós e já foi inaugurado por Cristo. Mas para que ele seja demonstrado na Terra, precisamos sinalizá-lo através da nossa vida. Que o nosso trabalho possa se tornar uma expressão de um pedaço do Reino de Deus na Terra, anunciando a beleza que está por vir na eternidade.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um Deus que se frustra

       
      Umas das coisas mais errôneas que se pode pensar a respeito de Deus é que Ele é um tirano. Jesus, durante todo seu ministério terreno, trabalhou para ajustar nossas lentes com relação ao seu Pai. Perceba que na parábola dos lavradores maus, em Mt 21:33, o dono da vinha representa o próprio Deus: 


       Jesus disse: —Escutem outra parábola: certo agricultor fez uma plantação de uvas e pôs uma cerca em volta dela. Construiu um tanque para pisar as uvas e fazer vinho e construiu uma torre para o vigia. Em seguida, arrendou a plantação para alguns lavradores e foi viajar. Quando chegou o tempo da colheita, o dono mandou alguns empregados a fim de receber a parte dele. Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outro e mataram ainda outro a pedradas. Aí o dono mandou ainda mais empregados do que da primeira vez. E os lavradores fizeram a mesma coisa. Depois de tudo isso, ele mandou seu próprio filho, pensando: "O meu filho eles vão respeitar." Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: "Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa". Então agarraram o filho, e o jogaram para fora da plantação, e o mataram.
      Esse texto faz alusão à Isaías 5:2-7. Que nos explica que Deus esperava que Israel fizesse o que é direito, mas só ouviu suas vítimas pedindo socorro. Deus é frustrado em seus planos, para que não viole o livre arbítrio concedido à sua criação, como demonstração de todo o seu amor. Todos os dias os seres humanos usam o presente de Deus - a liberdade - para fazer o que é mau.

     É difícil para nós pensar que Deus ficou frustrado. Saber que Ele não conseguiu realizar um de seus desejos nos deixa assustados. Principalmente por que nossa mente raciocina com o conceito grego de Deus. Aquela ideia de perfeição suprema. Afinal, aquele que é perfeito não muda, nem é frustrado no seu querer. Mas a perfeição do Deus dos cristãos, tratada na Bíblia,  não quer dizer "ausência de mudança de ânimo". O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo se entristece e se alegra. Ele é um Deus passional, um Deus de relacionamentos.  E relacionamentos implicam a possibilidade da frustração. O amor só é pleno quando ambos são totalmente livres, inclusive para abandonar o outro e fazer o que é mau.

      Jesus compartilha sua frustração quando diz: " Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os mensageiros que Deus lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (Mt 23:37). Já pensou num Deus que chora e lamenta não ter conseguido o que queria? Não parece mesmo um Deus Todo-poderoso... Mas acontece que Ele se esvazia do seu todo-poder e encarna como Todo-Amor... Ele que, em sua essência, não poderia jamais ser frustrado em seus planos, abre mão de usar seu todo-poder avassalador para usar seu amor incondicional.

       Viver debaixo da graça (favor que não se merece) é assim mesmo. Assusta. Ser livre é coisa muito séria. E, na verdade, Deus se permite frustrar porque não impõe sua vontade sobre seus filhos. Ele assume o ônus de ter criado seres à sua imagem e semelhança. E sabe que a liberdade traz consigo a possibilidade de fazer o mal, inclusive contra Ele mesmo e contra sua perfeita vontade.

       Precisamos aprender a viver de acordo com o que Ele nos ensina, para que possamos gerar em seu coração a alegria de ver os frutos do sacrifício e, não, a frustração de ver seus filhos queridos escolherem o que é mau.